Se fosse brasileiro, Boris Johnson não precisaria se preocupar

Se fosse brasileiro, Boris Johnson não precisaria se preocupar

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Bernardo Mello Franco – Num país que cultua as tradições e a pompa da monarquia, Boris Johnson despontou como novidade irresistível na política. Carismático e irreverente, o britânico quebrou todos os protocolos como prefeito de Londres. Tornou-se uma atração à parte nas Olimpíadas de 2012, quando disputou os holofotes com os atletas e a realeza.

Numa de suas peripécias, Boris saltou de uma tirolesa para celebrar o primeiro ouro do Reino Unido. Atrapalhado, perdeu velocidade e ficou pendurado na corda a seis metros do chão. A cena provocou risadas e turbinou sua popularidade. “Se qualquer outro político no mundo ficasse preso numa tirolesa, seria um desastre. Para Boris, é um triunfo absoluto…”, resignou-se o então primeiro-ministro David Cameron.

Quatro anos depois, Boris usaria o referendo do Brexit para dar um salto mais ambicioso. Oportunista, pegou carona na campanha pela saída da União Europeia, uma solução simples e errada para remediar os problemas do Reino Unido. Com a vitória da causa, sua chegada ao topo passou a ser uma questão de tempo.

Em 2019, Boris ascendeu ao sonhado cargo de primeiro-ministro após trair Theresa May, sua colega no Partido Conservador. Num lance arriscado, convocou novas eleições e foi recompensado com a maior vitória dos tories em três décadas. Parecia o início de uma longa temporada em Downing Street.

A chegada da pandemia chacoalhou os planos do premiê. Aliado de Donald Trump, Boris flertou com a tese negacionista da imunidade de rebanho. Mudou de ideia depois de contrair o vírus e passar três noites na UTI. O lockdown o impulsionou nas pesquisas, mas produziu um efeito bumerangue: a imprensa descobriu que ele promoveu festinhas na residência oficial, violando as regras que impôs ao resto da população.

Boris sobreviveu ao chamado Partygate, mas não resistiu ao novo escândalo que veio à tona na semana passada. Um deputado conservador foi acusado de assediar sexualmente outros homens. O premiê sabia das denúncias, mas mentiu para proteger o aliado. Desmascarado, viu seu apoio político despencar e foi obrigado a entregar o cargo.

Se fosse brasileiro, Boris não precisaria se preocupar. Jair Bolsonaro também soube dos relatos de mulheres sobre Pedro Guimarães, mas tentou abafar o caso para mantê-lo no comando da Caixa. Finalmente concordou em demiti-lo, mas não perdeu um segundo pensando na própria renúncia. Ele ainda deixou claro que fez a troca a contragosto — e avisou que ninguém deve esperar uma “nova era” no banco.

*O Globo

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