O silêncio nada inocente dos militares sobre as eleições

O silêncio nada inocente dos militares sobre as eleições

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A volta dos que nunca foram.

Tenta-se construir desde o fim da ditadura de 64 a imagem de que os militares se converteram à democracia, descolando-se de uma vez por todas do seu passado golpista. Todos tinham a ganhar com isso – os militares, as forças políticas e, por extensão, o país

A República foi obra de um golpe militar. O povo, bestificado como já se disse, assistiu o que pensava ser uma parada militar fora de hora pelas ruas do Rio e sob o comando de um marechal doente e monarquista. Era o ato de deposição do imperador.

Ao marechal alçado a presidente, sucedeu outro que passaria à história como o “marechal de ferro”. Outro golpe, que ficaria conhecido como revolução, pôs fim à República Velha. Getúlio Vargas, apoiado pelos militares, governou 15 anos como ditador.

Derrubado por eles, voltou ao poder nos braços do povo, para matar-se com um tiro no peito ao concluir que seria derrubado novamente. A morte de Getúlio adiou o novo golpe que se consumaria em 1964, a pretexto de salvar a democracia ameaçada.

Durante 21 anos, os generais revezaram-se no comando do país. A liberdade foi suspensa, torturou-se e matou-se adversários do regime, até que a ditadura se esgotou por razões mais econômicas do que políticas, ou mais políticas do que econômicas, tanto faz.

Tancredo Neves elegeu-se presidente, mas não assumiu o cargo, morrendo logo depois. Foi o então novo ministro do Exército que decidiu que o sucessor de Tancredo seria José Sarney, o vice, e não Ulysses Guimarães, o presidente da Câmara dos Deputados.

Foi sob pressão militar que a Assembleia Nacional Constituinte de 1988 votou o mandato de cinco anos para Sarney, ao invés de quatro como a maioria desejava. E na Constituição foi enxertado um artigo dúbio que permite aos militares tutelar os civis.

Não fosse assim, como o general Eduardo Villas Bôas, à época comandante do Exército, advertiu publicamente o Supremo Tribunal Federal da inconveniência de conceder um habeas-corpus a Lula? O tribunal negou o habeas-corpus por 4 votos contra 3.

A eleição de 2018 foi a volta dos que não foram. Um ex-capitão afastado do Exército por planejar atentados terroristas a quartéis se elegeu presidente com o maciço apoio das Forças Armadas. E os militares retornaram ao poder dispensados de dar um golpe.

Ali estão, e se Bolsonaro se reeleger, permanecerão pelo maior tempo possível. Bobagem imaginar que eles, muitas vezes contrariados, se rendem às vontades do ex-capitão. Bolsonaro e eles jogam juntos, as divergências são mínimas ou para inglês ver.

Se Bolsonaro confronta a justiça é porque os militares lhe dão respaldo. Eles veem a justiça como aliada da esquerda. Por sua formação que nunca mudou, eles veem a esquerda como um mal a ser extirpado ou mantido a grande distância do poder central.

Caso Lula vença Bolsonaro no próximo domingo, os militares baterão continência para ele porque é preciso manter as aparências. Mas assim como o bolsonarismo continuará vivo, os militares continuarão tutelando a política brasileira.

*Noblat/Metrópoles

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