Bolsonaro tem estratégia para descolar imagem da alta dos combustíveis

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Enquanto não conseguem uma solução eficiente para conter a escalada no preço dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro e seus aliados já traçam a narrativa eleitoral que vão usar na campanha para lidar com esse assunto, informa Malu Gaspar, O Globo.

O objetivo dos bolsonaristas é tentar se descolar do problema, não só responsabilizando governadores (pela cobrança de ICMS) e a Petrobras (pela política de preços), mas também arrastando o PT para o centro da discussão.

“A culpa é deles. A gente está pagando até hoje a conta dessa roubalheira”, disse à equipe da coluna o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), resumindo o discurso que será usado em peças de campanha e nas falas dos bolsonaristas, nos próximos meses.

A ideia, segundo o próprio senador e outros estrategistas do presidente, é usar e abusar dos sucessivos escândalos na petroleira nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

“Estamos pagando um preço do combustível alto até hoje, porque o PT roubou dinheiro de empreendimentos que seriam a nossa autonomia hoje” acrescentou Flávio.

O cálculo político em curso nos bastidores é o de que os eleitores responsabilizam Bolsonaro pelo aumento da fome, mas não especificamente pela alta dos combustíveis.

Haveria, portanto, espaço para falar em “herança maldita” do PT, relembrando os episódios de corrupção que mancharam a história da Petrobras e levaram à ruína o governo Dilma.

Pesquisas qualitativas feitas pelo comando da campanha mostraram que a menção aos casos de corrupção e a exibição dos vídeos das delações premiadas feitas por ex-membros do governo e empreiteiros fazem com que os eleitores recuem da intenção de votar em Lula.

A estratégia, porém, não é unânime na campanha. Entre os líderes do PL e do PP, há controvérsia sobre se vale a pena repisar os casos de corrupção.

Isso porque as pesquisas também mostram que essa não é a prioridade do eleitor, que está mais preocupado com a economia, a inflação e a pobreza.

Além disso, parte dos atuais aliados de Bolsonaro também esteve junto do governo petista e também foi acusada de corrupção – como o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL).

Como tática diversionista, porém, o uso do petrolão na campanha tem ganhado força, especialmente pela falta de alternativas melhores.

“Essa conta não pode cair só no Bolsonaro. Para o PT, falar de Petrobras é muito pior”, resume um interlocutor do presidente. “Nosso problema (na campanha) está na fome, na falta de alimento.”

As duas questões, no entanto, não são estanques. A alta dos combustíveis tende a provocar um efeito dominó nos preços, uma vez que o escoamento de diversas mercadorias, sobretudo alimentos, é feito por meio de transporte rodoviário, abastecido com diesel.

Mesmo assim, aliados do presidente alimentam a expectativa de que ele ainda conseguirá debelar o problema – ou pelo menos convencer o eleitorado de que está tentando.

Para um interlocutor envolvido nas discussões da campanha à reeleição, o reajuste deu a Bolsonaro legitimidade para tomar as “medidas necessárias” para controlar a alta nos preços agora, como enquadrar a diretoria da Petrobras e defender a abertura de uma CPI.

É um discurso bem diferente do empregado na campanha de 2018, quando o então candidato do PSL, em seu programa de governo, defendia a posição de que “os preços praticados pela Petrobras deverão seguir os mercados internacionais”.

Mas é o possível, diante do calor que Bolsonaro vem tomando de Lula nas pesquisas eleitorais.

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