Não culpe a pandemia e a guerra pela inflação dos alimentos no Brasil

Não culpe a pandemia e a guerra pela inflação dos alimentos no Brasil

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Hegemonia do agronegócio, governo ausente, câmbio alto e crise econômica criam tempestade perfeita para disparada.

Lista na mão, semblante tenso, postura hesitante e carrinho vazio: a ida ao supermercado tornou-se um momento delicado para muitos brasileiros. Fantasma de um passado não tão distante, foi chegando sorrateira até se instalar de vez como uma realidade concreta na mesa: a inflação está de volta. E vem atingindo com mais força os alimentos.

A justificativa de que a alta dos preços é um fenômeno global vem sendo repetida à exaustão pelo governo de Jair Bolsonaro, reverberada por seus apoiadores e também por boa parte da imprensa brasileira. Mas é possível culpar a pandemia, o comportamento das commodities e a guerra na Ucrânia pelo descontrole da inflação dos alimentos no Brasil?

O que a cenoura, a batata, as frutas, a carne, o açúcar, o óleo de soja e o café produzidos e consumidos aqui têm a ver com isso? Como explicar uma inflação que parece fora de controle no país que é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo? Em 16 anos, os alimentos acumulam alta de 230%, bem acima dos 141,5% registrados pelo IPCA neste mesmo período.

Embora tenha impactado os preços por aqui, o cenário internacional não dá conta de explicar características próprias da inflação brasileira. A dinâmica de formação dos preços dos alimentos está relacionada, em grande medida, a fatores internos.

Política cambial, primarização do comércio exterior, desindustrialização, saldo da balança comercial, concentração de terra e mercado de commodities podem soar como um balaio sortido de um economês incompreensível para a maioria das pessoas.

Mas é o conjunto desses fatores e a interrelação entre eles que impacta, direta ou indiretamente, o preço e a disponibilidade da comida que chega na mesa. Ou seja, o buraco é bem mais embaixo. E, sem entender esse buraco, não há como sair dele. Aliás, no curto prazo não há nada no horizonte que permita ter otimismo quanto ao fim desse ciclo inflacionário.

 

*Com Brasil de Fato

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