Realidade paralela de grupos antidemocráticos soma medo a teorias conspiratórias

Realidade paralela de grupos antidemocráticos soma medo a teorias conspiratórias

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Se os atos antidemocráticos diminuíram nas estradas, nos grupos bolsonaristas de Telegram eles encontram espaço e identificação de milhares.

De acordo com a Folha, o pedido por intervenção militar virou comportamento comum há uma semana, ancorado no que bolsonaristas entendem por apoios cifrados do presidente Jair Bolsonaro (PL), das Forças Armadas e da mídia estrangeira.

Na quarta-feira (2), Bolsonaro publicou um vídeo em que dizia que os protestos eram bem-vindos. Foi explícito ao afirmar, no entanto, que era contrário a interdições nas rodovias. Uma das leituras entre radicais foi a de que o presidente teria apoiado a intervenção militar.

Desde a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os argumentos principais nos grupos de conversa extremistas dizem que o chefe do Executivo não pode apoiar publicamente as manifestações, que teria um plano junto com as Forças Armadas e que sua vontade é que a população permaneça na rua.

O pronunciamento do chefe do Executivo diminuiu as barricadas, mas deslocou as manifestações para as frentes dos quartéis. O pelotão digital se comporta como se Bolsonaro precisasse da ajuda deles para impedir que Lula tome posse.

O brasão do Exército na mesa em que Bolsonaro se pronunciou e até um erro de português no post de seu Facebook (o termo desobstrução saiu com um ‘s’ a mais, criando um SOS no meio da palavra) foram decodificados como um endosso.

Embora pareçam sátiras criadas por infiltrados da esquerda, casam plenamente com as teses defendidas nos últimos dias.

“O que uniu todos os segmentos do bolsonarismo nos grupos foi a intervenção militar, seja para os que foram para a frente dos quartéis, seja para os que soltaram a mão do presidente, que é uma fatia menor. A narrativa mestra é a da intervenção, e isso ficou claro logo depois da eleição”, diz a antropóloga Letícia Cesarino (UFSC), que se debruçou sobre o estudo de desinformação política e de grupos de extrema-direita nos últimos meses.

A indignação diante da derrota –não aceita, pois a crença geral é que houve fraude– intensificou o agrupamento dos bolsonaristas mais radicais em torno de teorias conspiratórias, que não ficaram restritas a fóruns fechados, como antigamente, mas expostas em grupos abertos de Telegram, nas redes sociais, em lives com milhares de visualizações e nas ruas.

Uma notícia falsa, sem nenhuma conexão com a realidade, apontou que o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), teria sido preso. A informação levou bolsonaristas a se abraçarem e a gritarem no centro de Porto Alegre. Uma mulher foi ao chão de joelhos, batia no peito e dizia: “o Brasil é nosso, o Brasil é nosso”.

Já o que teria sido encarado como apoio das Forças Armadas veio de um simples storie de Instagram no qual o Exército diz #BomDiaCombatentes.

Bolsonaristas se dedicaram a semana inteira para pedir SOS nas páginas oficiais das Forças Armadas, na esperança de que elas salvassem o Brasil de Lula. Qualquer filmagem de um militar em seu posto de trabalho é encarado como apoio.

A teoria mais nova é a comprovação da fraude eleitoral feira por uma auditoria argentina, alarde que correu como rastilho de pólvora na sexta-feira (4).

Um relatório apócrifo de 70 páginas, que durante a semana foi atribuído às Forças Armadas, apareceu em espanhol em uma transmissão num canal argentino no YouTube (a live foi derrubada, mas juntou meio milhão de pessoas).

Os grupos também entendem que a mídia internacional dá a devida cobertura aos protestos e solicitam que os manifestantes marquem os perfis Fox News, NBC, CBS e New York Times em seus registros na internet.

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