Rafah, uma cidade na Faixa de Gaza, tornou-se o epicentro de um conflito político entre os Estados Unidos e Israel. As Forças de Defesa de Israel (FDI) têm considerado lançar uma grande campanha em Rafah, pois é o último grande reduto do grupo Hamas na região. No entanto, essa ação levanta várias questões, tanto em termos humanitários quanto em relação às implicações políticas.
Por um lado, a ocupação de Rafah permitiria a interrupção do contrabando de armas do Egito para a Faixa de Gaza. Além disso, o Hamas mantém reféns israelenses na cidade, o que aumenta a pressão para uma intervenção militar. No entanto, uma operação em grande escala em Rafah traria consequências significativas.
Estima-se que 1,4 milhão de civis, a maioria deles deslocados do norte de Gaza, estão concentrados em uma área de apenas 25 quilômetros quadrados, sem instalações adequadas para fornecer abrigo em outras localidades. Além disso, a mobilização maciça das FDI em Gaza poderia prejudicar a aliança estratégica entre Israel e o Egito, um parceiro crucial. Os Estados Unidos também estabeleceram uma linha vermelha, mostrando sua oposição a uma invasão em Rafah.
Atualmente, não há perspectivas imediatas para uma operação militar em Rafah. As negociações sobre um cessar-fogo temporário e a libertação de reféns estão em andamento, de modo que uma escalada militar durante o Ramadã seja evitada. A IDF ainda não iniciou a mobilização necessária nem pediu aos civis em Rafah que se mudem para possíveis “enclaves humanitários”. Portanto, uma ação militar em Rafah não ocorrerá nos próximos meses, no mínimo.
No entanto, fica a pergunta: por que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, continua a mencionar a possibilidade de uma operação em Rafah, e por que os Estados Unidos estão adotando uma posição firme contra isso? Netanyahu tem usado a questão para reforçar sua imagem política, dando a entender que ele autorizou pessoalmente tal ação, quando na verdade isso é uma decisão do gabinete. É uma jogada política para garantir que a narrativa da “vitória total” permaneça ao seu lado.
A postura da administração Biden é menos clara. Por que eles estão dando tanta importância a uma operação que não ocorrerá em um futuro próximo? Isso levanta a suspeita de que estejam tentando mostrar influência, mesmo em um assunto que sabem não estar prestes a acontecer. Infelizmente, essa abordagem está apenas fortalecendo Netanyahu, alimentando sua narrativa de enfrentar uma ameaça externa e permitindo que ele prolongue a guerra para evitar eleições antecipadas.
Na pior das hipóteses, se a operação em Rafah não ocorrer, Netanyahu culpará Biden e seus rivais políticos mais próximos, retratando-os como derrotistas em conluio com a Casa Branca. Essa teoria conspiratória já está sendo disseminada pelos apoiadores do primeiro-ministro nas redes sociais. Assim, mesmo sem uma ação militar, Rafah se tornou um campo de batalha político entre Jerusalém e Washington, no qual Netanyahu pode sair vitorioso com a ajuda, ainda que inadvertida, do governo Biden.
*Fonte: Haaretz