Recessão na Argentina abala o mercado interno, apesar do superávit fiscal

Recessão na Argentina abala o mercado interno, apesar do superávit fiscal

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Na Argentina, o cenário econômico de 2024 é marcado por uma crise de consumo que atinge indiscriminadamente todos os setores do mercado doméstico, de supermercados a eletrodomésticos, de automóveis a restaurantes. Esta crise, que se diferencia por sua amplitude, não poupa nem mesmo as farmácias, refletindo uma situação de profunda recessão que desafia empresas e consumidores em todo o país.

Embora haja sinais positivos, como a desaceleração da inflação nos últimos meses, a economia argentina continua enfrentando desafios significativos, especialmente nos setores dependentes da evolução dos salários e do emprego. Este processo é visto como inédito, obrigando todas as empresas a redefinirem suas estratégias de negócios.

A recessão é particularmente severa nos setores de alimentos e medicamentos, com uma queda de 10% nas vendas de produtos da cesta básica. As farmácias também sofrem com uma queda de dois dígitos no primeiro trimestre do ano, impactando até mesmo tratamentos prolongados em áreas carentes.

O Portal Vermelho procurou o depoimento de dois argentinos que vivem esta realidade de recessão e observam o andamento do Governo Milei em meio a turbulências como a gigantesca Marcha Universitária, ocorrida nesta terça-feira (23), em todo o país. Uma professora universitária e um sindicalista da simbólica indústria do couro.

Deja vú do industricídio

Marcela Oliver, psicanalista e escritora, além de professora na Universidade de Buenos Aires (UBA), compartilhou suas perspectivas sobre a atual crise política e econômica na Argentina, descritas por ela como um desastre.

Para ela, a situação atual evoca uma sensação de déjà vu, comparando as políticas neoliberais propostas por Milei com as implementadas durante o governo de Carlos Menem nos anos 1990. Ela enfatizou que essas políticas já demonstraram ser falhas no passado, resultando em privatizações “a preço de banana” e deterioração dos serviços públicos.

“Só que, agora, a coisa está mais brava ainda, porque nem no governo do Macri, que era um governo de direita, se atacou a educação e a saúde públicas, e a ciência também, como se está atacando neste momento”. Para ela, a direita representada por Milei vai muito além da tecnocracia econômica neoliberal.

“Esta não é apenas uma questão de macroeconomia e ajuste fiscal, mas uma tentativa clara de desmantelar instituições que são consideradas dos ‘surdos’, ou seja, aqueles que se preocupam com a ciência, educação e saúde pública”, afirmou Marcela, citando o apelido dado por Milei aos que considera de esquerda. Ela explica que as instituições que estão sendo fechadas são autossustentáveis.

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