FBI agradeceu Sergio Moro pelos “trabalhos já realizados”; documentos comprovam influência dos EUA na Lava Jato

FBI agradeceu Sergio Moro pelos “trabalhos já realizados”; documentos comprovam influência dos EUA na Lava Jato

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Relatórios oficiais obtidos pela Sportlight confirmam participação sistemática do FBI na Lava Jato em Curitiba.

A Agência Sportligh conseguiu, via Lei de Acesso à Informação (LAI), acesso a relatórios oficiais do Ministério da Justiça, da época em que Sergio Moro era ministro, que comprovam a influência dos Estados Unidos na Operação Lava Jato.

Nos relatórios trazidos à tona, Moro assinala que, durante suas viagens aos Estados Unidos já na condição de ministro de Bolsonaro, recebeu agradecimentos de agentes do FBI e do DHS, pelos “trabalhos já realizados” na Lava Jato.

Leia a reportagem completa:

Por Lúcio de Castro
Da Agência Sportlight

“Equipe à disposição do Brasil”: relatório de viagem do ex-ministro Sérgio Moro é confirmação oficial da participação do FBI na Lava Jato
Uma equipe do FBI foi destacada para ficar “à disposição” dos integrantes da “Operação Lava Jato”.

É o que revelam os relatórios oficiais das viagens de Sérgio Moro quando ocupava o cargo de ministro da justiça do governo Jair Bolsonaro, obtidos pela Agência Sportlight de Jornalismo através da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Entre os dias 17 e 20 de março de 2019, Sérgio Moro esteve em Washington como parte da missão oficial que integrou a visita presidencial aos Estados Unidos. Sua agenda era de “reuniões e encontros com autoridades governamentais dos Estados Unidos”.

No dia 18, com agenda tomada por seis atividades ao longo daquela segunda-feira, duas foram dedicadas a encontros com membros do FBI (Federal Bureau of Investigation), além de uma com representante da CIA. De acordo com o relatório do ministro, ao meio-dia, o FBI, através da “chefe de operações internacionais”, Rhouda Fegali, ofereceu um almoço para Sérgio Moro.

O relatório faz a primeira menção a participação do FBI no Brasil através dos agradecimentos de Sérgio Moro aos “trabalhos já realizados”.

Às 17h, o agora senador pelo União Brasil (PR) se reuniu com o diretor do FBI, Christopher Wray.

AGRADECIMENTO POR EQUIPE DESTACADA PELO FBI PARA “FICAR À DISPOSIÇÃO DO BRASIL” NA LAVA JATO

É quando então acontece a fala que atesta oficialmente a participação do FBI de forma sistematizada na Lava Jato.

Pelo relato de Sérgio Moro, o FBI destacou “uma equipe para ficar à disposição do Brasil para os trabalhos”.

Participação descrita assim por Sérgio Moro no relatório: “A Diretora do DRCI agradeceu o FBI os trabalhos levados a cabo para a operação Lava Jato, ressaltando a importância da iniciativa de terem destacado uma equipe para ficar à disposição do Brasil para os trabalhos, momento em que os norte-americanos expressaram a relevância da operação para o Brasil e para vários países da América Latina”.

O DRCI ao qual Sérgio Moro se refere no relatório é a “diretoria do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional”, parte do Ministério da Justiça. Todo pedido de cooperação deve obrigatoriamente passar pelo Ministério da Justiça, através do DRCI.

O que explica o fato do relatório de viagem do ministro Sérgio Moro falar em agradecimento por parte do DRCI na reunião. No entanto, os documentos via LAI mostram que nessa viagem em que era parte da comitiva presidencial, o ministro tinha apenas um integrante próprio de sua pasta: Georgia Renata Sanchez Diogo, que era coordenadora-geral de assuntos internacionais da assessoria especial internacional.

Sérgio Moro foi ministro da justiça do governo Bolsonaro entre 1º de janeiro de 2019 e 24 de abril de 2020. Nesse período, viajou 10 vezes para o exterior, sendo 3 para os Estados Unidos, o país mais visitado por ele. Em duas dessas ocasiões, teve agendas oficiais com representantes do FBI.

A primeira em 18 de março, como parte da visita presidencial e com agenda própria no FBI. E depois em 25 de junho do mesmo ano, quando visitou a sede do FBI em Washington.

PARCERIA FBI/LAVA JATO COMEÇOU EM 2014

Em 2020, por ocasião da série de reportagens que foram parte da “Vaza Jato”, o The Intercept Brasil e a Agência Pública revelaram a participação de agentes do FBI nas investigações da “Operação Lava Jato”. Na ocasião, as reportagens em parceria dos sites chegaram a 12 nomes de agentes do FBI que investigaram a Lava Jato lado a lado com a PF e a força-tarefa de Curitiba do MPF.

Antes disso, em fevereiro de 2018, o site Conjur revelou que a agente do FBI, Leslie Backschies, teria tido participação efetiva nas investigações.

A parceria FBI/Lava Jato começou em 2014. Entre 2015 e 2016, tiveram como foco a Odebrecht e a Petrobras.

*Agência Sportlight/GGN

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