Do golpismo ao terrorismo, com o aval do presidente da República

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Palácio da Alvorada vira refúgio de procurados pela Justiça.

“A ordem é prender os vândalos”, anunciou no meio da noite de ontem o governador Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal. Mas até o início da madrugada nenhuma prisão ocorreu, e cerca de 200 bolsonaristas radicais permaneciam aglomerados defronte a um prédio da Polícia Federal na área central de Brasília.

Exigiam a libertação do indígena Serere Xavante, de 42 anos, preso horas antes por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República. Ele é acusado de envolvimento em manifestações antidemocráticas e com o tráfico de drogas.

Serere Xavante foi preso nos arredores do Palácio da Alvorada. Na noite do domingo, um aviso postado nas redes sociais dizia que os portões do palácio estavam abertos para quem quisesse acampar nos seus jardins. Centenas de bolsonaristas, abrigados perto do QG do Exército, atenderam ao chamado, levando cadeiras e agasalhos.

Michelle Bolsonaro, a primeira dama, mandou alimentá-los com sanduíches e café. Eles passaram toda a segunda-feira à espera de Bolsonaro. E quando ele apareceu, decepcionaram-se com o seu silêncio. O presidente limitou-se a saudá-los, levantando os braços. O gatilho da baderna foi então a prisão de Serere Xavante.

Enquanto os mais exaltados, de volta ao centro da cidade, tocavam fogo em carros e ônibus e atacavam o prédio da Polícia Federal, o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, preso outras vezes e com medo de sê-lo novamente, fazia o caminho inverso. Pediu e obteve refúgio no Palácio da Alvorada, segundo seu advogado.

Na ótica bolsonarista, trata-se de livre expressão de pensamento, garantida pela Constituição. Não é. O monopólio da violência cabe ao Estado, que pode exercê-la para preservar a ordem pública. Quem prega a anulação de eleições em portas de quartéis é golpista. Quem toca fogo em carros e ônibus é terrorista.

Bolsonaro é o principal responsável por tudo isso. Por mais de ano tentou desacreditar o processo eleitoral. Uma vez derrotado, não reconheceu a vitória do seu adversário. Seu silêncio nada tem de obsequioso. Ao rompê-lo na semana passada, deu razão aos golpistas e estimulou-os a seguir nas ruas, amotinados.

No ato de diplomação do presidente eleito Lula da Silva, o ministro Moraes garantiu que “serão responsabilizados” os diversos grupos organizados que espalham a desinformação, professam o discurso de ódio e querem destruir a democracia. É o mínimo que se espera que seja feito, mas logo, sem demora nem concessões.

*Noblat/Metrópoles

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