Boulos: Lula no ‘JN’ deve mostrar o abismo que diferencia o estadista do miliciano

Boulos: Lula no ‘JN’ deve mostrar o abismo que diferencia o estadista do miliciano

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Lula vai avançar rapidamente no combate à fome. Mas como vai fazer em relação à questão central, a reindustrialização?”, quer saber Giorgio Romano Schutte (UFABC)

A expectativa de lideranças aliadas ou analistas econômicos progressistas em torno da entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Jornal Nacional, nesta quinta-feira (25), é de que os temas debatidos sejam os de real interesse do país. Que se discutam, por exemplo, questões ligadas à superação da crise econômica, social e institucional a que chegou o Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro. Mas, também, que as perguntas para Lula no JN levem o debate além.

“A destruição foi tão grande nos últimos anos, os desafios são tão imensos, e a situação internacional é tão difícil, que a grande dificuldade será estabelecer prioridades”, diz Giorgio Romano Schutte, professor de Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC). “Quais serão as primeiras três prioridades? Imagino que Lula vai responder, entre elas, o combate à fome.”

Para o professor, um ponto central a se discutir é a reindustrialização do país. “Mas não sob parâmetros antigos, e sim novos. O Brasil tem que aproveitar as novas tecnologias, senão vai ficar mais para trás ainda. O mundo está investindo muito. A Europa está falando em política industrial depois de décadas de neoliberalismo, quando era ‘proibido’ falar em reindustrialização”, diz Giorgio. “Os Estados Unidos estão colocando trilhões de dólares para chips e questões energéticas etc. A China também. Eu queria ver Lula falar disso.”

Um exemplo de reindustrialização são as cerca de 30 novas fábricas de semicondutores previstas para entrar em operação no mundo até o final de 2023. Duas, na Alemanha e na Ásia, devem começar a funcionar ainda em 2022, segundo disse Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, à revista Exame. O Brasil poderia investir US$ 2 bilhões para ter novas unidades de produção de semicondutores para a indústria automotiva, de acordo com ele.

Esforço de longo prazo

“Como o novo governo fará para uma reindustrialização nova, considerando que é um esforço de mais longo prazo? Não tenho dúvidas de que, se eleito, Lula vai avançar rapidamente no combate à fome. A dúvida é como vai fazer em relação à questão central, a reindustrialização. Todo o resto ou é emergencial ou é decorrente de um programa de reindustrialização”, acredita o professor da UFABC.

Para lideranças políticas, entrevistadores de Lula no JN deveriam apresentar questões sobre a reconstrução do país. É uma “oportunidade de discutir o que realmente importa, como reconstruir o Brasil, como tirar 33 milhões de pessoas da fome, gerar emprego e distribuição de renda”, diz, por exemplo, o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP). “O país tem urgência em se recuperar da tragédia que foi o governo Bolsonaro”, acrescenta o parlamentar, no Twitter.

Nessa direção, Guilherme Boulos (Psol), coordenador da campanha de Lula em São Paulo, sugere que a pauta deve ser combate à fome, investimento em saúde, educação e moradia. “E mostrar que estamos prontos pra reconstrução do país. Dia de mostrar o abismo que existe entre o miliciano e o novo presidente a partir de 1º de janeiro de 2023”, escreve.

O deputado federal Enio Verri (PT-PR) quer ver Lula falar no JN do trabalho realizado nos governos do PT. “Lula incluiu o povo pobre no orçamento, mostrando ao mundo um crescimento econômico lastreado na base da pirâmide social”, postou o parlamentar nas redes sociais.

Questões econômicas e pacificação

A campanha de Lula pretende, até onde for possível, se concentrar em questões econômicas, no Jornal Nacional. Ao mesmo tempo, é uma chance de mostrar ao país que Lula – com a experiência de dois mandatos e o respeito que adquiriu no mundo – pode se transformar no pacificador de um país que se tornou violento e socialmente injusto. A enorme audiência do Jornal Nacional pode ajudar a disseminar que essa possibilidade, com Lula, é real.

Durante a entrevista de Bolsonaro, na segunda-feira (22), a audiência do JN foi de 33 pontos em média. De acordo com estimativas a partir de informações da própria TV Globo, 43 milhões de pessoas foram alcançadas no período do programa com o atual presidente. Sem contar a repercussão posterior, em veículos de comunicação e redes sociais.

*Com RBA

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