Ajudar Bolsonaro a se reeleger exige deixar a reputação de lado

Ajudar Bolsonaro a se reeleger exige deixar a reputação de lado

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Admito estar por fora de muitas coisas, e foi por isso que consultei dicionários para saber exatamente o que significa “coach”.

Antigamente, expressões em outras línguas não podiam ser usadas na redação de notícias. Se fossem, era obrigatória a abertura de um espaço para explicá-las. Nem todo mundo é poliglota.

“Coach” é o profissional que ajuda uma pessoa, por meio de orientação, conselhos e treinamento a atingir um objetivo pessoal ou profissional. O empresário paulista Pablo Marçal é um “coach”.

Em “live” (transmissão ao vivo de áudio e vídeo na internet), ele fez um pedido aos milhares de influenciadores digitais convidados a socorrer Bolsonaro a 16 dias do fim das eleições.

Bolsonaro estava ao seu lado. A reunião era para ter sido fechada, mas uma parte dela vazou. Marçal começou sua fala dizendo:

“As pessoas vão bater em todos que se levantarem para defender o presidente. Vai ser um por um. Vão revirar a vida de todo mundo.”

Em seguida, advertiu os influenciadores, gente de quase todos os estados do país com grande, média ou pequena audiência, e disposta a beneficiar-se no futuro da gratidão de Bolsonaro:

“Não é melhor nesses próximos 15 dias todo mundo suspender a própria reputação para defender essa Nação? E você vai colocar sua reputação um pouquinho de lado.”

Pôr a reputação de lado para quê? Segundo Marçal, para “desfazer o montão de mentira que tem por aí”. E é preciso pôr a reputação “um pouquinho de lado” só para desfazer mentiras?

A verdade é a melhor arma para combater mentiras. Se você se vale dela, pode manter intacta sua reputação.

Marçal não disse porque seria preciso pôr a reputação “um pouquinho de lado”. Ou talvez tenha dito, mas não vazou. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) assistiu a conversa.

Não só ela: os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG), e o ex-secretário de Comunicação do governo Fabio Wajngarten, todos especialistas no assunto.

Marçal pontuou “missões” para os influenciadores e distribuiu um PDF com orientações. Entre as missões:

* Montar um “QG do capitão” em casa para a distribuição de materiais de campanha;

* Criar um grupo de WhatsApp para atrair mais pessoas para o movimento;

* Gravar um vídeo mostrando “indignação” contra as “injustiças” levantadas contra Bolsonaro.

Para mexer com os brios da plateia, Marçal enfatizou:

“Vocês estão sendo convocados. É convocação para a gente um dia não precisar pegar em arma, para um dia a gente não ficar louco pra querer o país de volta, esses comunistas eles não devolvem”.

“Eu quero que você vá pra cima. Não é para discutir com petista. Não adianta. O que temos que fazer é pegar os 2%, 3% de indecisos que estão na sua rede, se não a gente não fura essa rede”.

Quase concluo sem apresentar melhor quem é Marçal. Sua folha corrida é notável. Este ano, ele aspirou ser candidato a presidente da República pelo Pros.

Como não deu, foi candidato a deputado federal por São Paulo e elegeu-se. A justiça condenou-o em 2010 por participar de uma quadrilha que desviou dinheiro de bancos. A pena acabou extinta.

No final do ano passado, Marçal, surpreendeu a internet ao tentar fazer uma cadeirante andar. Foi em Goiânia, durante um evento onde os ingressos custavam R$ 977.

Marçal pôs a mulher em uma situação constrangedora ao pedir que levantasse da cadeira de rodas após ela ter dito que queria “dançar com Jesus”.

Segurada por outras pessoas, a mulher, paralítica das pernas, tentou, mas não conseguiu. O “coach messiânico” insistiu:

“Em nome de Jesus. Se concentra. Tira esse estado de curiosidade e concentra na dança e poderá, manifesta, a glória dele”.

Ao perceber que nada aconteceria, Marçal soltou um “caramba” e culpou o público pelo milagre frustrado.

Ele não terá dificuldade em culpar os influenciadores digitais por uma eventual derrota de Bolsonaro no próximo dia 30. Deus seja louvado!

Noblat/Metrópoles

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