Um presidente derrubou um governador. Como?

Um presidente derrubou um governador. Como?

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Para além do caso de corrupção do governador Wilson Witzel, que tudo indica ser real e pode implicá-lo, em caso de desvio e superfaturamento na saúde durante a pandemia, há um presidente que não tem respeito à constituição. Ou seja, há fatos que podem condenar Witzel.

Antes de tudo, é importante ressaltar que o clã Bolsonaro é investigado em pelo menos dois inquéritos no âmbito estadual, um pela rachadinha, envolvendo a primeira-dama e o filho Flávio, o segundo, o assassinato de Marielle Franco, que envolve o próprio Bolsonaro e um outro filho, o Carlos. Bolsonaro já mostrou que faz qualquer coisa para proteger o clã, inclusive passar por cima de qualquer aliado.

Witzel, por usa vez, assim que eleito, num ímpeto de megalomania, afirmou que seria presidente, em 2023, sem sequer concluir dois anos de mandato como governador do Rio. Com isso, não interferiu na Polícia Civil, que investiga a morte de Marielle Franco e foi justamente o MP-RJ, que investiga o Flávio e a primeira-dama, no caso Queiroz, que impediu que o caso fosse para a esfera federal. Como o mandato do atual chefe do MP-RJ está no fim e é essa pessoa que coordena os procuradores a frente dos dois casos contra o clã, considerando que é o governador do estado quem nomeia para a chefia do MP-RJ, Witzel ficou no caminho do presidente.

Obviamente, a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça tem grande influência neste caso, já que Moro, mesmo não valendo nada, tem o entendimento de que o estado tem que aparentar um mínimo de verniz de legalidade. Foi por isso que pediu contas do bolsonarismo. Sua saída abriu caminho para a substituição da direção da PF e da superintendência da PF, no Rio de Janeiro. Não por acaso, a investigação contra Witzel correu sob as ordens desse novo superintendente.

Com a PF no caso, o pedido de afastamento, pelo foro especial do governador, o julgamento como medida cautelar ao STJ, que decidiu de forma inconstitucional, pelo afastamento do governador carioca. Obviamente, a alegação do pedido inconstitucional da PF acatado pelo STJ, se deu pelo fato do ministro do STF, Dias Toffoli, ter paralisado o processo de impeachment de Witzel que corria na Alerj. Com o impeachment paralisado, a única saída seria um pequeno golpe institucional no estado do Rio, afastar o governador sob alegação de que poderia influir na investigação.

Mas, por que o ministro Benedito Gonçalves, do STJ, rasgou a constituição? O ministro do STF, Celso de Mello, se aposenta neste ano e tá todo mundo querendo abocanhar a sua vaga, quem nomeia o substituto é o presidente Bolsonaro. Ora, a quem bajular nesse momento oportuno? Ninguém melhor que o próprio presidente. O que explica a grande quantidade de vitórias bolsonaristas no âmbito do STJ e da Procuradoria-geral da República.

Com o caminho pavimentado, o afastamento de Witzel colocou à frente do estado, um anônimo chamado Cláudio Castro que, por sua vez, será a pessoa que nomeará o próximo chefe do MP-RJ, que será responsável por defender “o povo” nos casos Queiroz e Marielle. Ao assumir a cadeira de governador, Cláudio Castro de reuniu, nesse final de semana (29 e 30) justamente com o presidente Bolsonaro, na tentativa de um acordo de paz. Fraco politicamente, Castro certamente entregou o estado à milícia Bolsonaro e a ruptura institucional deu um passo adiante, na República Federativa das Bananas.

 

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