Um exímio enxadrista contra um iniciante.
Ninguém escapou à guilhotina na Revolução Francesa de 1789 para contar depois qual foi o momento mais apavorante do seu último dia de vida. Terá sido a caminhada até o cadafalso sob o silêncio ou os apupos da multidão?
Ou terá sido o ato de ajoelhar-se e pôr a cabeça em uma armação de madeira que a prenderia para que, dali a instantes, fosse separada do resto do corpo com a queda de uma lâmina pesada e afiadíssima?
Dizia-se que era uma morte indolor. Representantes do regime caído, entre eles o rei Luís XVI e a rainha Maria Antonieta, foram guilhotinados. Mais de 20 mil pessoas morreram em 50 guilhotinas durante os anos de terror.
No século XIX, o Brasil aboliu a pena de morte. Foi o segundo país das Américas a fazê-lo, precedido pela Costa Rica. Embora não aplicada, a pena de morte voltou a existir durante a ditadura militar entre 1969 e 1978.
Bolsonaro é um confesso apreciador da pena de morte, desde que não para ele, naturalmente, nem para os seus. Em 1999, em entrevista à Band, já como deputado federal, ele disse que o voto não mudaria nada no Brasil:
“Só vai mudar infelizmente quando partirmos para uma guerra civil, fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil, começando com FHC [Fernando Henrique Cardoso, o então presidente da República].”
E acrescentou:
“Vão morrer alguns inocentes. Tudo bem. Em toda guerra, morrem inocentes. Eu até fico feliz se morrer, mas desde que vão 30 mil juntos comigo. Fora isso, vai ficar no nhem‐nhem‐nhem”.
O entrevistador perguntou se ele, caso fosse eleito presidente, fecharia o Congresso. Resposta:
“Não há a menor dúvida. Daria golpe no mesmo dia. Não funciona e tenho certeza de que pelo menos 90% da população vai bater palma. O Congresso, hoje em dia, não vale para nada”.
Vinte e dois anos depois, já como presidente, advertiu às vésperas do dia 7 de setembro de 2021:
“Eu tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, ser morto ou a vitória. Podem ter certeza: a primeira alternativa não existe.”
É justamente a alternativa que agora lhe resta. Não é sensato desejar a morte de ninguém, e eu não desejo. O presidente Getúlio Vargas suicidou-se para não ser deposto. Covardia ou coragem? Bolsonaro jamais faria isso – ainda bem.
Acossado pela Polícia Federal, abandonado por seus aliados mais poderosos, temendo que a bolha bolsonarista comece a esvaziar, ele sacou uma arma, talvez a única que tenha: o apelo desesperado às ruas.
Em mensagem gravada, onde aparece sozinho, bem penteado e calmo, convocou seus devotos para uma manifestação no próximo domingo, dia 25, no palco preferido dos bolsonaristas: a Avenida Paulista.
Dois aliados políticos dele confirmaram presença: o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o líder da oposição na Câmara, Carlos Jordy (PL-RJ), ambos investigados pela Polícia Federal.
Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, e Ricardo Nunes (MDB), prefeito da capital e candidato à reeleição, ainda não disseram se comparecerão. Os demais governadores bolsonaristas observam de longe.
*Noblat