Desde o reinício da agressão israelense e do bombardeio da Faixa de Gaza, há 73 dias, a população palestina tem enfrentado uma devastação humanitária sem precedentes. No entanto, sempre houve falsas promessas de trégua para os civis que se deslocassem para o sul. Agora, a pequena cidade de Rafah, o último refúgio para os deslocados recebeu um milhão e meio de moradores de Gaza. Essas pessoas disputam recursos escassos, passam fome e ficam doentes, enquanto Israel anuncia que vai bombardear a cidade, ampliando a limpeza étnica do território.
Segundo a UNRWA, um envio de alimentos para 1,1 milhão de pessoas está preso em um porto israelense devido às recentes restrições das autoridades israelenses. 1.049 contêineres de arroz, farinha, grão-de-bico, açúcar e óleo de cozinha estão presos enquanto as famílias de Gaza enfrentam fome e inanição.
Neste domingo, o chamado “Comitê Constitucional e Judicial” do Knesset israelense aprovou um projeto de lei para interromper o trabalho da UNRWA em Jerusalém ocupada. Os palestinos que moram sob controle rígido militar na cidade temem pela vulnerabilidade e desproteção, caso a agência da ONU seja expulsa. Na Cisjordânia, que nada tem a ver com o Hamas, os palestinos também estão sendo gradualmente encurralados e expulsos de suas casas, com notificação de mortes constantes. As forças de ocupação atacaram hoje as aldeias de Rujib e Deir al-Hatab, a leste de Nablus. Além de Sa’ir e Shuyoukh, a nordeste de Hebron.
Repercussão internacional
A cidade de Rafah está mergulhada em uma atmosfera de ansiedade e pânico. Com as tensões entre Israel e Palestina atingindo níveis alarmantes, a população de Rafah enfrenta uma terrível incerteza sobre seu futuro imediato.
“Não temos a menor ideia para onde ir”, lamenta um morador local, refletindo o sentimento compartilhado por muitos na comunidade. A declaração de Philippe Lazzarini, Comissário Geral da UNRWA, ressoa com a realidade vivida por aqueles em Rafah: “Qualquer operação militar em grande escala entre essa população só pode levar a uma camada adicional de tragédia interminável que está se desenrolando em Gaza”.
A situação é agravada pelos relatos alarmantes de pessoas que foram alvejadas a queima-roupa enquanto tentavam se deslocar para o sul, como se fossem presas em uma caçada, sob o olhar de soldados que aparentemente se divertem gravando os alvos. Os números são assustadores: 42 mortos como resultado dos ataques de ocupação a residências e veículos na cidade de Rafah.
O Egito expressou seu total repúdio às declarações emitidas pelo governo israelense sobre a intenção de lançar uma operação militar em Rafah. Em um comunicado emitido pelo Ministério egípcio das Relações Exteriores, foram destacadas as consequências nefastas de tal medida, alertando para o risco de agravamento da catástrofe humanitária na Faixa de Gaza.
A comunidade internacional também está se manifestando sobre a situação. Tánaiste Micheál Martin, Ministro das Relações Exteriores e Ministro da Defesa da Irlanda, condenou veementemente a ampliação das operações militares em Rafah e as ordens de evacuação da população civil, enfatizando as graves violações do direito internacional humanitário que tal ação implicaria.
O Ministério das Relações Exteriores alemão ecoou essas preocupações, descrevendo o sofrimento em Rafah como “inconcebível” e alertando para os riscos de uma ofensiva em grande escala das Forças de Defesa de Israel (IDF).
Josep Borrell Fontelles, Alto Representante da UE para Assuntos Externos e Política de Segurança, destacou a necessidade urgente de retomar as negociações para libertar reféns e suspender as hostilidades como a única maneira de evitar uma catástrofe humanitária em Rafah e evitar graves tensões com o Egito.
A ActionAid Internacional diz que os ataques intensificados em Rafah teriam consequências desastrosas, uma vez que as pessoas recorreriam ao consumo de grama em condições desesperadas em abrigos sobrelotados. A comida está se tornando tão escassa que as pessoas recorrem ao consumo de ervas numa última tentativa de matar a fome. Enquanto isso, infecções e doenças proliferam em meio a condições de superlotação.
Enquanto o mundo observa com apreensão, os residentes de Rafah aguardam com temor o desenrolar dos eventos, temendo pelo que o futuro possa reservar para eles e suas famílias em meio a um cenário cada vez mais incerto e perigoso.
A comunidade civil internacional também levantou a sua voz em protesto, com manifestações em Nova York e apelos à ação por parte dos líderes mundiais. Centenas de ativistas e pessoas solidárias com o povo palestino protestaram no Museu de Arte Moderna (MoMA) em Manhattan, Nova York, exigindo uma postura contra o genocídio na Faixa de Gaza e a política de apartheid praticada por Israel contra o povo palestino. Mark Ruffalo, junto com outras celebridades, usou broches que representam “lírios da paz e artistas pelo fim do fogo” no prêmio do Directors Guild of America.
Resistência contínua
À medida que o número de mortos continua a aumentar, com mais de 28.491 pessoas mortas e 72.450 feridas em Gaza e na Cisjordânia desde 7 de Outubro, a comunidade internacional observa com preocupação a escalada da violência.
Os números são assustadores: mais de 12.250 crianças, 7.750 mulheres e 695 idosos perderam a vida nestes ataques indiscriminados. Além disso, estima-se que 8.000 pessoas estão desaparecidas, incluindo 4.000 crianças, enquanto 1,93 milhões de pessoas foram deslocadas, sendo que 15% delas sofrem de deficiência.
No 73.º dia após a “trégua humanitária” de apenas uma semana, o exército israelense realizou 14 massacres nas últimas 24 horas, deixando 112 mortos e 173 feridos. A falta de acesso a serviços médicos essenciais agravou ainda mais a crise, com relatos de que três pacientes morreram no Hospital Al-Amal devido à falta de oxigênio, causada pela obstrução de Israel.
A resistência do povo palestino continua forte face à brutalidade da ocupação. O Presidente do Estado da Palestina, Mahmoud Abbas, procurou apoio internacional e está no Qatar para se reunir com o Emir, Xeque Tamim bin Hamad Al-Thani, num esforço para travar o genocídio em curso.
Entretanto, na Cisjordânia e em Jerusalém, a ocupação continua a perpetrar violações dos direitos humanos, com assassinatos, detenções arbitrárias e ataques contra civis inocentes. A comunidade internacional deve intensificar os seus esforços para acabar com esta injustiça e garantir a proteção dos direitos fundamentais do povo palestiniano.
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