Ministro diz que STF e outros atores foram emparedados com decisões eleitoreiras em 2022.
Além dos ataques a urnas eletrônicas e da incitação a seus eleitores contra a Justiça Eleitoral, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também é acusado, no âmbito das ações que pedem sua inelegibilidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por conta das medidas que ampliaram programas sociais e garantiram benesses em período eleitoral, incluindo a articulação no episódio da redução dos preços dos combustíveis por meio da redução de impostos estaduais. Para o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Corte ficou “emparedada” naquele momento, como os demais atores no processo, mas respostas precisam ser dadas para evitar que o mesmo se dê em eleições futuras.
Em entrevista exclusiva a O TEMPO em Brasília, perguntado se a inelegibilidade do ex-presidente pode ser uma resposta, ele assentiu. “Isso. Certamente isso deve estar no bojo desse debate no TSE. Não estou a par aos detalhe sobre esse tipo de questão, mas certamente essa é uma possível resposta”, afirmou Gilmar Mendes.
Além disso, ele destacou a importância de atestar a inconstitucionalidade de determinadas decisões do tipo para evitar que outros agentes públicos façam o mesmo. “E também dizer em determinados casos que determinadas mudanças são inconstitucionais, ainda que não tenham efeito para essas eleições, mas tenha para outras, porque daqui a pouco nós vamos estar entrando no período eleitoral municipal, eleições no próximo ano. E se isso não é bem definido, daqui a pouco se estimulam essas medidas aventureiras”, afirmou.
“Essa PEC, a rigor, ela viabilizou o pagamento dos R$ 600 para as pessoas hipercarentes que estavam naquela situação de penúria. Como ficar contra isso? Só que isso já poderia ter sido decidido lá atrás, até em termos orçamentários, mas se decide na undécima hora e dentro já do período mais próximo das eleições, né? Empareda o Supremo. Ou aquela outra decisão que está até aqui comigo, está na minha relatoria, e nós estamos chegando agora um acordo para compensar os Estados e municípios a propósito da redução dos combustíveis, também algo artificioso naquele momento. Agora, quem vai ficar contra a redução do preço dos combustíveis quando todos nós somos dependentes? Até mesmo quem não tem carro sente isso no bolso porque contrata um táxi ou Uber, e precisa de ter uma solução mais econômica, mais barata. Portanto, vejo que nós fomos todos emparedados. E no Congresso dá pra ver que o próprio PT votou a favor dessas medidas todas. Portanto, criou-se uma situação realmente muito anômala naquele quadro”, completou.