Tiros foram motivados por rivalidade entre políticos alagoanos, há 60 anos.
Os ares no Senado Federal estavam carregados naquela quarta-feira. A rixa entre dois parlamentares alagoanos de famílias rivais tinha chegado ao limite. Desde que fora eleito, o senador Arnon de Melo (PDC), pai do então adolescente Fernando Collor de Mello, vinha sendo hostilizado e insultado por seu colega Silvestre Péricles de Góis Monteiro (PST), militar, ex-delegado e herdeiro de uma membro com história na política nacional. Segundo relatos, Silvestre planejava matar seu adversário se ele subisse na tribuna para discursar. Portanto, naquele dia 4 de dezembro de 1963, quando Arnon faria o discurso de abertura da sessão, o clima era de duelo de faroeste em pleno Congresso Nacional, segundo O Globo.
Então presidente do Senado, Auro de Moura Andrade havia tomado as providências cabíveis. Mandou impedir o ingresso de “pessoas suspeitas” na Casa, determinou a revista de todos que quisessem ingressar nas galerias e espalhou guardas à paisana pelas dependências. De acordo com reportagem do GLOBO na época, o filho mais velho de Arnon, Leopoldo Collor de Melo, de 22 anos, foi desarmado por um segurança antes de entrar. Ficou na mesma galera onde estava um genro de Silvestre, oficial do Exército. Mesmo com as precauções, havia o receio de que capangas das duas famílias tinham sido trazidos de Alagoas para Brasília e estariam prontos pra agir em caso de confronto.
Como de hábito, o senador do PST chegou cedo no Parlamento, passou na sala do café e foi cuidar da sua correspondência. Já o pedecista, visivelmente ansioso, entrou no gabinete de Moura Andrade para dizer que só iria à tribuna quando estivesse presente o seu rival. Ao soar da sirene, chamando os senadores para a sessão, Péricles deixou sua sala e se dirigiu para o plenário, onde já se encontrava Arnon. Com ar de tranquilidade, o autor das ameaças passou na bancada dos jornalistas, jogou alguns sorrisos, conversou brevemente com o senador e empresário pernambucano José Ermírio de Moraes e ficou de pé, permanecendo com o paletó sugestivamente desabotoado.
As galerias estavam lotadas e inquietas. Fazendo cessar o burburinho, Moura Andrade abriu a sessão avisando que a Mesa faria de tudo, “nos limites máximos de sua força”, para manter a ordem. “Se por ventura, alguém perturbar a ordem, será posto imediatamente sob custódia”, disse ele ao microfone.