Israel bloqueia ajuda humanitária para Gaza enviada pelo Brasil

Israel bloqueia ajuda humanitária para Gaza enviada pelo Brasil

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Na noite desta terça-feira (5), o Palácio do Planalto confirmou que a ajuda humanitária enviada pelo governo brasileiro aos palestinos foi bloqueada por Israel em Rafah. A informação foi inicialmente divulgada pelo deputado italiano Angelo Bonelli, do partido Europa Verde, que está na região, e diz que cerca de 400 pacotes de ajuda humanitária estavam na passagem de Rafah, dos quais 30 foram enviados pelo Brasil. O bloqueio gerou uma controvérsia diplomática, com Israel responsabilizando a ONU, o Egito e o Hamas, enquanto alega reter produtos considerados ameaças à sua segurança.

De acordo com Bonelli, o Brasil enviou cerca de 30 caixas de insumos, incluindo filtros de água e freezers. No entanto, os israelenses alegaram que a entrega seria “incompatível e perigosa para a segurança do Estado de Israel”, impedindo a entrada dos suprimentos.

Esses insumos fazem parte dos cerca de dois mil caminhões que aguardam autorização de Israel para entrar em Gaza com ajuda humanitária. Os veículos transportam suprimentos, equipamentos e alimentos de países como França, Singapura, Alemanha, Itália, Espanha e Kuwait, entre outros. As caixas com os insumos brasileiros estão retidas em um galpão da Cruz Vermelha em Arish, a 20 km da fronteira com Gaza.

Bonelli divulgou vídeos mostrando a situação dos caminhões retidos, evidenciando a fila extensa de veículos aguardando autorização para entrar em Gaza. Ele está na região com uma comitiva de 14 parlamentares italianos de oposição, que chegaram a Rafah há três dias.

Os bloqueios são realizados pelas forças militares israelenses que controlam a região da fronteira em Rafah, fiscalizando tudo que entra em território palestino por meio de equipamentos de raio-X. Itens como cilindros de oxigênio, camas para cuidados de longa permanência, incubadoras, geladeiras, barracas, muletas e até painéis solares foram barrados pelos israelenses e aguardam no galpão da Cruz Vermelha.

Essa ação de bloqueio ocorre em um momento crítico, com agravamento da tragédia humanitária na região. A Organização Mundial da Saúde relatou que ao menos 10 crianças morreram de fome em Gaza nos últimos dias. A equipe da organização que visitou um hospital na parte norte de Gaza no final de semana testemunhou o cenário desolador, destacando os níveis graves de desnutrição, escassez de alimentos, combustível e suprimentos médicos, além da destruição de edifícios hospitalares. O diretor da OMS, Tedros Adhanom, expressou sua preocupação com a situação através das redes sociais, evidenciando a urgência de ações para mitigar a crise humanitária em Gaza.

Tensão diplomática

Em resposta às acusações, a Embaixada de Israel em Brasília afirmou que parte da ajuda é liberada sob estrita supervisão para evitar o ingresso de equipamentos destinados a “grupos terroristas”. No entanto, o governo israelense nega ter informações específicas sobre a retenção das 30 caixas de freezers e filtros de água enviados pelo Brasil, além de refutar a alegação de que 400 caixas de alimentos e produtos estariam retidas em Al Arish, na fronteira entre Egito e Gaza.

O deputado italiano Angelo Bonelli contesta as declarações de Israel, afirmando que as autoridades israelenses estão impedindo a entrada de alimentos, enquanto crianças palestinas morrem de fome.

A relação entre Brasil e Israel já estava tensionada devido às declarações do presidente Lula, que acusou Israel de genocídio, e à subsequente convocação de embaixadores para esclarecimentos. A crise atual amplia o isolamento diplomático de Israel e reforça a urgência de soluções para a crise humanitária em Gaza.

Embora interlocutores da área diplomática minimizem a questão como uma medida de segurança comum, em um contexto onde relações entre Brasil e Israel estão tensas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou veementemente a ação de Israel. Lula afirmou que a população da Faixa de Gaza tem sido impedida de receber ajuda humanitária, denunciando a situação como inaceitável.

“Não é possível continuar essa matança sem que o conselho de segurança da ONU pare essa guerra e permita que chegue alimento e remédio. Tem mais de 30 toneladas de alimentos estocados que não conseguem chegar”, declarou o presidente Lula.

A crise diplomática entre os dois países teve início no mês passado, quando o presidente Lula comparou as mortes de palestinos em Gaza à matança de judeus na Segunda Guerra Mundial. Em resposta, o governo israelense convocou o embaixador do Brasil, Frederico Meyer, para uma reunião considerada “inaceitável” pela chancelaria brasileira, no Museu do Holocausto, em Jerusalém, resultando no retorno de Meyer ao Brasil.

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