Governo Lula ainda é refém do Congresso, mas restaurou democracia e se impôs na política externa

Governo Lula ainda é refém do Congresso, mas restaurou democracia e se impôs na política externa

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Em retorno ao Palácio do Planalto, Lula 3 tenta conciliar polarização política

No último episódio do ano, o podcast Três por Quatro, do Brasil de Fato, fez um balanço do primeiro ano de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao lado dos comentaristas José Genoíno, ex-presidente do PT, e João Pedro Stédile, economista e liderança do MST.

“O país atravessou uma tragédia, e quando tem uma tragédia, qualquer coisa que vem é melhor”, avaliou Genoíno. “Se você olhar para trás, o governo fez muita coisa, mas se você olhar para frente, agora é gerar emprego, aumentar os financiamentos da educação, saúde e assistência, programas populares, reindustrializar o país que é fundamental.”

Na visão do economista João Pedro Stédile, ainda falta para o novo governo Lula uma política que altere a estrutura econômica do Brasil ao longo prazo. Segundo ele, por enquanto, “a economia brasileira está andando no piloto automático”.

Dados divulgados pelo Banco Central no Relatório Trimestral de Inflação, apontam para um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,9%, previsto em setembro, para 3% em 2023. O BC também apresentou projeção de alta de 1,7% para o de 2024, de 1,8% antes.

“Lembre-se quem domina a economia brasileira não é o governo, é a burguesia. E a burguesia está satisfeita que na política houve uma estabilidade, voltaram as regras democráticas. Então ela está operando, continua acumulando, continua ganhando dinheiro”, comenta Stédile. “Cada vez que o governo manda um projeto de lei que pode afetar os seus privilégios no Legislativo, a burguesia entra em ação e, através do Centrão, ‘mela’.”

José Genoíno pontua, de maneira similar, que as linhas básicas da economia foram mantidas durante este primeiro ano. “Um, o teto de gastos tem outro nome, que limita os investimentos públicos para uma política de industrialização e para as políticas sociais. Dois, o predomínio da financeirização através dos juros altos via Banco Central. Três, a questão de privatizações […]. E eu acrescentaria uma quarta, que é a questão da reforma tributária”, elenca.

Apesar disso, o economista destaca o empenho do novo governo Lula com relação à classe trabalhadora. “O salário mínimo aumentou, o que significa mais renda familiar, a inflação está sob controle, porém há preços em que o governo poderia incidir mais, como o do gás”, lembra.

Ainda durante este um ano de governo, o presidente Lula consolidou uma frente ampla, em uma tentativa de conciliar os grupos de esquerda e de direita. “Tem todo mundo. Os banqueiros, a burguesia e estão lá também os representantes da classe trabalhadora, então é um governo de frente ampla. Fora o fato de que nós estamos diante de um Poder Legislativo que está aí a mais à direita”, diz Stedile.

E, por isso, “a burguesia quer qualificá-lo de neoliberal, para poder atraí-lo, mas Lula é um homem comprometido com a classe trabalhadora.”

Isto pode ser um problema, segundo o ex-presidente do PT, José Genoíno, já que “o neoliberalismo é a incubadora da extrema direita e para combatê-la, temos que demarcar as políticas neoliberais”. O comentarista afirma ainda que “o governo faz aliança com setores neoliberais, ele não é neoliberal, mas está governando com parte do neoliberalismo”.

Protagonismo da política externa

No primeiro ano do terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) priorizou a agenda internacional. Ao todo, Lula fez 15 viagens no exterior e passou por 24 países.

O presidente admitiu que “viajou demais” em 2023, mas se justificou afirmando que era preciso “reconstruir a imagem do Brasil” no mundo, uma promessa feita durante a sua campanha.

No Três por Quatro, Stédile avaliou que Lula “foi bem na política internacional” e se posicionou em temas importantes, como a questão palestina, a defesa do Brics e a crítica ao novo presidente argentino Javier Milei.

Ainda há críticas quanto aos movimentos defendidos pela gestão Lula, principalmente, posicionamentos dados pelo Itamaraty. Segundo Stédile, o Itamaraty “não defende os interesses da soberania nacional”.

A exemplo disso, o economista aponta que “na tentativa de aprovar a qualquer custo o acordo do Mercosul com a União Europeia, eles iam entregar de bandeja ao capital europeu a nossa fraca indústria nacional e o nosso mercado de agricultura. É um absurdo!”, disse.

O ex-presidente do PT, José Genoino, ressalta a necessidade de o Brasil se aproximar cada vez mais dos países vizinhos. Para ele, a integração sul-americana é um enorme desafio. O destaque é para o imbróglio entre Guiana e Venezuela sobre a região de Essequibo. “Tem que viabilizar imediatamente um conselho de defesa sul-americano que não pode incluir os Estados Unidos, e que adote ali o seguinte: entre nós é cooperação, dissuasão é para fora”, declara Genoíno.

Balanço do governo Lula

Entre os pontos negativos da gestão Lula, Stédile destacou a relação com o poder Legislativo. “Impressionante como o Centrão enquadrou muitas políticas”, avaliou.

Já para Genoino, o governo federal errou na maneira “como tratou as forças armadas, a maneira como aceitou a tutela militar, e a maneira como indicou o procurador-geral da República que é um conservador juramentado”.

Entre os pontos positivos, Stédile destaca a recuperação das políticas públicas que atendem às necessidades da classe trabalhadora. Além disso, ele afirmou que a política externa foi muito positiva. “Ele teve muita coragem, enfrentou os gringos em vários temas”.

Genoino aponta para “o Bolsa Família e a política em relação aos yanomamis”. “Olhando pro passado, o governo Lula é uma esperança, agora olhando para frente, para o futuro, é encruzilhada”.

*Com Brasil de Fato

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