Dez mil mortos em Gaza exibem esforço de Israel em passar de vítima a vilão

Dez mil mortos em Gaza exibem esforço de Israel em passar de vítima a vilão

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O conflito entre o governo de Benjamin Netanyahu e o Hamas completa um mês, nesta segunda (6), com Gaza registrando 10 mil mortos – fruto do cerco e dos bombardeios israelenses. Isso é sete vezes o número de vítimas do ataque terrorista do Hamas em Israel. Uma criança morre a cada 10 minutos em Gaza, segundo a ONU.

Em religiões como o cristianismo e o judaísmo, o número 7 é poderoso. Neste caso, ele também é emblemático: está marcando um momento de virada na percepção internacional. O Estado de Israel, que era a vítima inicial deste capítulo do conflito, resolveu por conta própria também se tornar um vilão.

À medida em que as imagens das atrocidades do Hamas em Israel são soterradas em número pelas imagens de atrocidades do governo Netanyahu na Palestina, os entendimentos iniciais ganham contorno diferentes. Pedaços de corpos de crianças e corpos destruídos ao lado de ambulâncias atacadas fazem questionar se o “direito de resposta ao terrorismo” também pode incluir crime de guerra e crimes contra a humanidade.

Soma-se a isso o fato de que Tel Aviv e Washington rechaçam um cessar-fogo e a abertura de corredores humanitários, impedindo qualquer resolução do Conselho de Segurança ou acordo internacional nesse sentido. Agravam a fome, a sede e o desespero representado por médicos em hospitais sem energia que operam sem anestesia e com a luz do celular.

Os convites a jornalistas em vários países para mostrar imagens das execuções de crianças pelo Hamas confirmam que Israel sabe que vem perdendo terreno na dimensão simbólica da guerra e tenta contra-atacar.

A questão é que a popularização das redes sociais fizeram com que qualquer morador de Gaza com um celular na mão, apontando para a realidade à sua frente, seja mais eficaz que uma bazuca. Essas imagens alimentam manifestações em massa, inclusive nos EUA, pedindo o fim das hostilidades.

Dois efeitos colaterais do conflito são o aumento preocupante tanto do antissemitismo e da islamofobia – há imbecis dos dois lados. Isso preocupa a classe média urbana israelense e judeus em todo o mundo, o que aumenta a pressão sobre o governo Netanyahu – que precisa de uma vitória indiscutível e rápida para tentar se manter no poder após a falha vergonhosa de sua inteligência em prever os ataques.

Jornais israelenses já discutem que a janela de Netanyahu está se fechando. A questão: é quantos de civis inocentes mais ela vai gerar enquanto continuar aberta com a conivência, a incompetência e a inoperância internacional?

*Sakamoto/Uol

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