Tony Garcia revela como Moro esquentava grampos com autorizações indefinidas de interceptações telefônicas

Tony Garcia revela como Moro esquentava grampos com autorizações indefinidas de interceptações telefônicas

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Conjur – O empresário Tony Garcia afirmou nesta sexta-feira (2/6) que foi usado pelo ex-juiz e agora senador Sergio Moro como agente infiltrado para perseguir desafetos do principal personagem da finada “lava jato”. Os procuradores Carlos Fernando de Souza e Januário Paludo também participaram do esquema, segundo afirmou Garcia em entrevista ao jornalista Joaquim de Carvalho, da TV 247.

Um dos alvos da perseguição teria sido o advogado Roberto Bertholdo, que acabou preso com base em falso testemunho prestado por Garcia. De acordo com o empresário, ele foi obrigado por Moro a incriminar Bertholdo, advogado que vinha conseguindo anular sentenças proferidas à época pelo então juiz.

“Ele achava que eu era um braço político do Bertholdo nos tribunais superiores. E que o Bertholdo usava isso para vender sentenças, comprava desembargadores. Era isso o que ele perseguia, os desembargadores que, segundo ele, o Bertholdo comprava no TRF-4. Ele queria saber se eu sabia disso. Eu falei que não.”

Ainda de acordo com Garcia, Moro dizia o que ele tinha de falar em delações. “Eles me jogaram no porão da Polícia Federal. Ele fazia de Curitiba a Guantánamo brasileira. Ele fazia os mesmos métodos de tortura psicológica para tirar de você, preso, o que ele queria.”

Garcia contou também que, em 2006, Moro e membros do Ministério Público que depois se tornaram procuradores da “lava jato” o instruíram a conceder entrevista a um repórter da revista Veja em uma tentativa de incriminar o ex-ministro petista José Dirceu. À publicação, Garcia “relatou” que Dirceu e Bertholdo eram responsáveis por operar um suposto mensalão. “Eu fui instado a procurar coisas contra o PT”, disse Garcia.

‘Festa da cueca’
O empresário também disse que desembargadores do TRF-4 eram chantageados por personagens da “lava jato” com a informação de que teriam participado de orgias com prostitutas na suíte presidencial de um hotel em Curitiba, por volta de 2003, em episódio chamado por Garcia de “festa da cueca”.

“Teve desembargador com medo de aparecer a gravação. Não vou falar quem é, mas teve desembargador que contou para a mulher e acabou arranjando separação”, acrescentou Garcia, que disse ter sido procurado por Moro para que conseguisse um vídeo com imagens da festa.

O empresário também citou o ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça Felix Fischer, que teria sido pressionado pela “lava jato” devido a supostos pagamentos feitos por Bertholdo a um filho do magistrado.

De acordo com o site Brasil 247, Tony Garcia nasceu em São Paulo, mas se tornou figura influente “nas altas rodas” do Paraná. Já o jornalista Luis Nassif o define como um “playboy” que tentou carreira na política.

“Eu estou esperando até agora que a PGR ou que alguém de direito me intime para eu poder falar”, disse Garcia. “Tem coisas que posso provar, mas o farei na Justiça. Para cada desmentido deles, eu vou mostrar duas verdades.”

Antes da entrevista à TV 247, a Veja já havia informado que Garcia afirmou ter gravado de forma clandestina o ex-governador do Paraná Beto Richa, preso em 2018, e outras autoridades a pedido de Sergio Moro e em troca de benefícios na Justiça.

O relato de Garcia, segundo a revista, constou de depoimento feito em sigilo à juíza Gabriela Hardt, em 2021. O caso ficou parado na 13ª Vara Federal de Curitiba até que foi remetido pelo juiz Eduardo Appio, hoje afastado do cargo, ao Supremo Tribunal Federal.

Procurada pela publicação, a defesa de Moro negou as acusações. “Tony Garcia é um criminoso que foi condenado, com trânsito em julgado, por fraude e apropriação indébita. A pedido do Ministério Público e com supervisão da Polícia Federal, resolveu colaborar com a Justiça em investigação de esquemas de tráfico de influência e corrupção, ocasião na qual foi autorizado a gravar seus cúmplices. Este tipo de diligência é autorizada pela lei. Nunca houve qualquer escuta clandestina de conhecimento do senador, à época juiz, Sergio Moro.”

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