‘Fiquei no porão 9 meses e 28 dias’, relata sobrevivente de tráfico de pessoas

‘Fiquei no porão 9 meses e 28 dias’, relata sobrevivente de tráfico de pessoas

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Brasil teve mais de 1.300 casos desse crime de 2011 a 2019 e leva mais de dez anos para julgar processos, aponta levantamento.

Eu fiquei no porão 9 meses e 28 dias”, conta Luana Maciel, 39, sobrevivente do tráfico internacional de pessoas. Mulher, negra e vítima de violência doméstica, ela viu na oportunidade de trabalho oferecida por um conhecido a chance de melhorar de vida. Mas não foi o que aconteceu com ela e com muitos outros brasileiros traficados nos últimos anos.

De acordo com boletim do Ministério da Saúde, de 2011 a 2019 foram registrados no Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) 1.302 casos de tráfico de pessoas, e a pasta acredita que a pandemia agravou a situação, uma vez que aumentou a vulnerabilidade socioeconômica.

Outro levantamento, realizado por meio de uma parceria entre a OIM (Organização Internacional para as Migrações), o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e a Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), ajuda a compreender melhor alguns aspectos do crime.

Os pesquisadores analisaram 144 ações penais com decisão em segunda instância e descobriram que a média de duração dos processos de tráfico internacional é de dez anos, dez meses e 16 dias. “É um absurdo”, critica Lívia Miraglia, professora da UFMG e uma das coordenadoras do estudo.

Das 714 vítimas listadas nos processos, 688 eram mulheres e 31 tinham menos de 18 anos. O principal destino das vítimas era a Espanha, seguido por Portugal, Itália, Suíça, Suriname, Estados Unidos, Israel, Guiana, Guiana Francesa, Holanda e Venezuela, e em 97,22% dos casos a finalidade do crime era a exploração sexual.

“Os traficantes trabalham principalmente com as redes sociais. Postam fotos da menina bonita que foi trabalhar fora e está vivendo uma vida luxuosa, e isso seduz as vítimas”, diz a pesquisadora.

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