Os sete erros de Bolsonaro que permitiram 75% das 690 mil mortes por covid no Brasil

Os sete erros de Bolsonaro que permitiram 75% das 690 mil mortes por covid no Brasil

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O enfrentamento da pandemia pelo governo Bolsonaro está entre os piores do mundo. Se tivesse adotado as medidas adequadas, teria evitado uma a cada quatro mortes, segundo o Dossiê Abrasco Pandemia de Covid-19, lançado nesta semana.

O enfrentamento da pandemia pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) está entre os piores do mundo e permitiu 75% das quase 690 mil mortes pela covid no Brasil. Ou seja, 517 mil, segundo especialistas. As conclusões estão no Dossiê Abrasco Pandemia de Covid-19, lançado nesta quinta-feira (24), no encerramento do 13º Congresso que a Associação Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrasco) realizou em Salvador.

Com mais de 300 páginas, o documento com cópia enviada ao grupo de trabalho sobre Saúde da equipe de transição do governo eleito é um diagnóstico da condução da pandemia. E indica as alternativas a serem adotadas pelo novo governo no enfrentamento de uma pandemia ainda longe de acabar.

A constatação de que graças a Bolsonaro o Brasil está entre os piores do mundo na condução da pandemia de covid vem do cruzamento de dados epidemiológicos, sob várias abordagens metodológicas. Cruzando números de população e mortes por covid-19 no contexto global, os autores identificaram, em 22 de março de 2022, que o Brasil concentrava 2,7% da população mundial. Mas respondia por 10,7% das mortes por covid no mundo. Um evidente descompasso entre as duas proporções.

Mortalidade acumulada por covid no Brasil

A mortalidade acumulada por covid (número de óbitos por 1 milhão de habitantes) também mostra a desproporcionalidade dos óbitos no Brasil. No mesmo 22 de março de 2022, enquanto a média global da mortalidade acumulada era de 770 para cada grupo de 1 milhão de pessoas, a aferição no Brasil indicava 3.070 mortes para o grupo de mesmo tamanho. Ou seja, quatro vezes mais que a medida global.

Mortes que poderiam ser evitadas

Em uma abordagem agregada, que compara a mortalidade geral nos anos da pandemia e a projeção dos óbitos baseada em anos anteriores, é possível observar que, de 30 de abril de 2020 a 31 de março de 2022, o número de óbitos manteve-se sempre acima de 10% em relação aos anos prévios à pandemia. A única exceção ocorreu em 31 de outubro de 2021, quando a aferição registrou 5,83%. O ponto mais alto da série histórica foi aferido em 31 de março de 2021, quando o número de óbitos além do esperado chegou a 82,88% em relação aos anos anteriores à pandemia.

“Dessa forma, é possível especular que, caso o país tivesse seguido o padrão médio global, três de cada quatro mortes por covid-19 ocorridas no Brasil teriam sido evitadas. Essa assertiva não está apoiada no método convencional de estimação de mortes evitáveis. Contudo, abordagens convencionais somente serão factíveis ao final da pandemia, quando as estatísticas oficiais estiverem corrigidas quanto ao sub ou sobre registro de dados”, diz trecho do capítulo “Quantas mortes poderiam ter sido evitadas no Brasil? O impacto dos fracassos no enfrentamento da pandemia’, do Dossiê Abrasco.

Lista dos 7 erros de Bolsonaro

Para ajudar a compreender esse resultado macabro, que Jair Bolsonaro tenta negar, a Abrasco listou os sete erros cometidos pela gestão negacionista contra a covid.

  1. Baixa testagem, isolamento de casos e quarentena de contatos;
  2. Uso de uma abordagem clínica, e não populacional, para enfrentar a pandemia;
  3. Desestímulo ao uso de máscaras;
  4. Promoção de tratamentos ineficazes;
  5. Atraso na compra de vacinas e desestímulo à vacinação;
  6. Falta de liderança do Ministério da Saúde e inexistência de um comitê de especialistas;
  7. Falta de uma política de comunicação unificada.

“O Dossiê Abrasco sobre a pandemia de COVID-19 é uma contribuição muito importante para o debate global sobre o enfrentamento da emergência sanitária. A análise da experiência do Brasil é muito rica em lições, pois joga luz sobre a contraposição entre o estímulo à propagação da doença pela autoridade máxima da República e a resistência da sociedade civil a esses desmandos. Esse aprendizado interessa a todos os países, pois o mundo segue ameaçado por novas emergências catastróficas, haja vista a persistência de um modo de produção gerador de iniquidades sociais e devastação ambiental.”

Luís Eugênio Souza
Presidente da Federação Mundial de Associações de Saúde Pública

*Com Rede Brasil Atual

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