REFLEXÃO: Por que a CPI é uma mistificação da política no Brasil?

REFLEXÃO: Por que a CPI é uma mistificação da política no Brasil?

Compartilhe

Se há alguma coisa boa na crise brasileira que se arrasta há anos e que se torna cada vez mais aguda é que – “sem querer querendo” – é um curso completo e detalhado de como a Ordem Burguesa em um país atrasado se processa e se comporta para aqueles que já têm condições teóricas para fazer a filtragem de dados e a análise correta da conjuntura.

O Brasil é um curso a céu aberto de poder, de malandragem, de dissimulação e de como o controle da informação é uma mina de ouro para os grandes veículos de comunicação. Ainda que estes concorram com os novos meios de comunicação, há nítida capacidade de “cozinhar” a situação política e transmitir uma realidade ritualística e mitológica ao povo que efetivamente é vítima e está à mercê da trama que se constrói dia e noite e não dispõe dos mecanismos críticos corretos para ler a realidade.

Uma destas estratégias recentemente mobilizadas (do grande leque de possibilidades existentes) é a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 que coloca supostamente o governo Bolsonaro na mira de uma investigação judicial conduzida pelo Poder Legislativo como está previsto na Constituição da nossa República.

Esta é a versão oficial da CPI. Mas uma análise política não deve e nem pode ser positivista à este ponto. Há toda uma dimensão mais elementar das disputas políticas que se travam no Brasil ou em qualquer outra sociedade do Mundo que não seja tribal e que alcançou as formas mais elaboradas de representação política, dentre as quais a sociabilidade e institucionalidade Burguesa. Essa dimensão basilar não é noticiada e nem ao menos discutida de forma clara, sincera e popular. Ao povo só é jogada a possibilidade de saber que existe uma CPI e que supostamente estaria engajada num ideal de que a “Democracia plena” está em pleno vigor. Os legisladores, certamente, “preocupadíssimos” com a injustiça social fazem através da CPI o seu papel de fiscais do governo e seus excessos, no melhor estilo “pesos e contrapesos”.

Bem, parece que as coisas não são bem assim na prática. O Congresso, por mais “abstrato” que isso possa soar é uma máquina de poder de Estado. É apenas um instrumento de vários. O Estado ou o Congresso não são um “ente” em separado da sociedade e das formas mais poderosas de imposição de um determinado estado de coisas. Estes não ocupam um plano etéreo, ou seja, não estão tão afastados do plano dos mortais assim. O Estado é o Estado, desde há muito sob controle de quem tem poder real no conflito de interesses sociais historicamente forjados. O poder real é o poder econômico. Não à toa que negociatas e compra de interesses dentro do Parlamento são coisas até mesmo de conhecimento do povo, é de “praxe” como dizem alguns.

O Congresso ou qualquer outra forma de representação constitucional está à serviço dos interesses de Estado e o Estado não pertence à classe trabalhadora. Logo, é necessário compreender que acreditar que a CPI é uma manifestação grandiosa de justiça social é uma tentativa de acreditar que, de repente, um milagre aconteceu pela primeira vez na História política do Mundo, ou seja, as altas formas de representação do poder seriam 100% “pró-Povo”. Isso nunca aconteceu desde Sargão I da Acádia há mais 2 mil anos atrás até os dias atuais. Por que a CPI é hoje o veículo que conduzirá a justiça social ao povo brasileiro massacrado não somente pela pandemia mas pelo projeto de exploração intensa da sociedade implementado no país? O problema que nenhum parlamentar da CPI irá dizer (aliás se quer refletir) é que o governo Bolsonaro em realidade é o resultado do próprio Congresso.

Devemos achar que Bolsonaro seja um raio no céu azul? De onde veio Bolsonaro? Bolsonaro veio do Congresso, ou seja, desta “lindeza” da Democracia. Ademais, de onde veio o clima que elegeu Bolsonaro? Também do Congresso que jamais pautou por maioria de representantes os assuntos relacionados aos abusos da Operação Lava Jato, as ingerências estrangeiras no Ministério Público Federal ou o fraudulento Golpe de Estado de 2016 – conduzido pelo Congresso, dentro do Congresso e à margem da legalidade. Pois bem meus caros leitores, o que a CPI irá efetivamente ajudar a salvar a pele dos brasileiros? O que poderia se esperar da CPI sendo o próprio Congresso que conduz a CPI uma partícipe primário do morticínio ao que o brasileiro foi submetido? Que autoridade moral e ética esta CPI possui?

O expediente de “bombas” na CPI da Covid-19 levam as pessoas a entrar numa catarse coletiva que – em que pese pormenores técnicos e jurídicos pontuais – não levarão a nada. A CPI é um dos vários mecanismos políticos que servem ao papel de usina de factoides que em nada trarão a justiça social ao povo. O Congresso e as instituições devem ser desmascarados porque na realidade criam situações que mantém o Status quo e não traz a mudança efetiva. O que podemos esperar da CPI? A libertação do povo das garras do Neofascismo e da Necropolítica? De forma alguma, o Congresso inclusive nem se presta à isso. O Congresso é um bureau dos assuntos da Burguesia que controla estes instrumentos de Estado para tentar dissimular uma “ordem social” fantasiosa. A CPI é uma conversa fiada e forma de expressar uma comunicação direta com o povo em suas residências, ou seja, transmitir a ideia de que diante do descalabro que o país se encontra, os senadores e afins “prestam contas”. E há ainda um fator de prestígio muito ligado à sociedade de massas da atualidade, a sedutora possibilidade de elaborar um marketing pessoal – seja para lacração nas redes ou para algo mais útil; angariar apoio eleitoral para as próximas eleições.

Mas é necessário ir além disso. Esta CPI é, antes de mais nada, um grande acordo estratégico. Qual é a jogada mais importante? A criação de um clima de terceira via neoliberal para 2022 já que a crise política que se instalou esvaziou o pantanoso centro político do Brasil. O grande destaque desta CPI é a possibilidade dela criar lideranças de Centro, recuperar moralmente este segmento ultra desgastado e decadente. A tabelinha Congresso, Grandes meios de comunicação monopolistas e setor financeiro está uma “joia da coroa”, é um “Dream Team” de se invejar. Conseguem mexer com o imaginário de vários analistas que mergulharam de cabeça no falatório da CPI. “É CPI pra cá, CPI para lá”, como se isso fosse efetivamente resolver os problemas da população. A quem querem enganar? Apenas aqueles que querem se deixar enganar ou que não possuem efetivamente o leque de informações necessárias para denunciar o sistema. A CPI é o cinismo puro e é até mesmo de conhecimento público através de jargões populares que as CPIs “acabam em Pizza”. O povo na sua simplicidade as vezes consegue desvendar muito bem a situação ao contrário dos que insistem em não enxergar para além da ideologia dominante. Sabem onde é possível levar a mudança política real? O povo nas ruas! É preciso se insurgir contra o este estado de coisas.

Compartilhe

One thought on “REFLEXÃO: Por que a CPI é uma mistificação da política no Brasil?

  1. Adail
    julho 7, 2021 at 11:42 pm

    Não dou crédito algum a qualquer análise política – por mais sofisticada que seja – que desconsidere o descalabro das mais de 500 mil mortes. Com mais um ano deste governo, não sei a que patamares chegaremos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

%d blogueiros gostam disto: