O silêncio do general

O silêncio do general

Compartilhe

Até aqui pelo que já se sabe sobre os atos do presidente, 56% dos brasileiros consideram que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade durante a pandemia.

Não é sem motivo que 61% apoiam os trabalhos da CPI da Covid.

Renan Calheiros foi bastante objetivo sobre a decisão de Lewandowski de conceder ao general Pazuello o direito de não se autoincriminar. Renan disse que não é isso que a CPI está buscando de Pazuello, não é confissão, quer apenas que ele aponte a responsabilidade de terceiros.

Sobre Pazuello, outros falarão. São essas dinâmicas que modificam o comportamento de quem depõe na CPI. Por isso, as ações do Palácio do Planalto não produzem o resultado esperado por Bolsonaro.

A evolução da CPI tem se dado nas relações humanas a partir de um movimento natural e não mecânico, o que acaba por produzir uma dinâmica dupla entre o que se revela e a próxima etapa que se abre a partir dessas revelações.

O pedido de um general ao STF do direito ao silêncio para não transferir para si a responsabilidade que é de Bolsonaro, simbolicamente, não deixa de ser uma modelagem importante, porque descreve como operou o ministério da Saúde modelado por Bolsonaro.

É isso que o silêncio de Pazuello descreve como quem não comandou a pasta, mas se adaptou à personalidade de quem manda de verdade na Saúde, que é o próprio Bolsonaro.

E por definição, a ação prática se deu a partir de seu exercício pessoal em todo o processo trágico que se viu durante a pandemia. Foi a ação de Bolsonaro que deu toda a dinâmica para se produzir essa hecatombe nacional que, até aqui, vitimou mais de 430 mil brasileiros, porque o objetivo de Bolsonaro sempre foi o de desenvolver uma política de contaminação em massa para que a economia fosse o menos afetada possível.

Portanto, Bolsonaro é o responsável direto pela evolução e disseminação do vírus no Brasil.

É certo que Pazuello dividiu sim a responsabilidade com o presidente, pois ele, sempre disposto a se submeter às ordens chefe, associou-se ao morticínio a que o Brasil assiste hoje.

Por isso, mesmo que Lewandowski tenha dado a Pazuello a garantia de permanecer em silêncio, o grosso da questão lhe pesará sobre os ombros, claro, mas menos que nos ombros de Bolsonaro.

Agora sabe-se que Pazuello pretende falar em seu depoimento na CPI, só não se sabe o quê.

Não há como o general construir uma narrativa contra fatos que estão claros para a sociedade. É pouco provável que Pazuello não caia em contradição, mesmo que diga que a obra não é dele. Neste caso, a emenda do soneto cairá nos ombros do “chefe da nação”, porque toda a agenda do ministério da Saúde, como mostraram os três ex-ministros que já prestaram depoimento na CPI, Bolsonaro controla com mãos de ferro a pasta da Saúde no momento em que o Brasil beira novamente o aumento de casos e de mortes por covid, o que pode representar uma terceira onda.

Isso fará das revelações de Pazuello um episódio especial na CPI, sobre o que ele não conseguir esconder, até porque seria vergonhoso para as Forças Armadas que um general da ativa ficasse amedrontado a ponto de não dar um pio durante seu depoimento, numa atitude desonrosa para a própria farda que veste.

A conferir.

*Carlos Henrique Machado Freitas

Compartilhe

%d blogueiros gostam disto: