Paraná está em busca de cilindros de oxigênio, por colapso da saúde.

Paraná está em busca de cilindros de oxigênio, por colapso da saúde.

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Cervejarias locais paralisam produção para emprestar equipamento e Procuradoria pede retomada do lockdown.

Com a escalada das internações por Covid-19, o Paraná começa a enfrentar problemas no fornecimento de cilindros de oxigênio, principalmente nas redes municipais da região oeste do estado. A elevada demanda por medicamentos para intubação é outro desafio para as autoridades locais.

Na semana passada, cervejarias da região chegaram a paralisar as operações para emprestar cilindros para a rede municipal de Clevelândia, a 400 quilômetros de Curitiba. A campanha foi iniciada pela cervejaria local Insana e ganhou a adesão de outros produtores locais.

“Estamos entregando todos os nossos cilindros de oxigênio disponíveis e pedimos que, se você tem algum cilindro disponível, também realize uma doação”, escreveu a cervejaria em publicação no Facebook destinada a outros cervejeiros, na qual anuncia a interrupção temporária de suas operações.

No texto, a cervejaria fala em cinco mortes por falta de oxigênio na cidade, mas o governo do estado diz ainda não ter sido notificado de óbitos provocados pela falta do insumo. A Folha não conseguiu contato com a prefeitura de Clevelândia até a publicação desse texto.

O diretor-geral da Secretaria de Estado de Saúde, Nestor Werner, diz que a situação é diferente da verificada em Manaus no início do ano, mas ainda assim é um cenário preocupante. “A princípio, não tem problema de produção de oxigênio”, afirma. “O problema é com os cilindros.”

Segundo ele, os produtores de oxigênio que operam no estado já garantiram que conseguem atender ao aumento da demanda e os grandes hospitais de referência no tratamento da Covid-19 têm produção própria. Mas, com o aumento no atendimento em unidades hospitalares de menor porte, criou-se um problema logístico no interior.

“Como o consumo de oxigênio é cada vez maior, não há quantidade suficiente de cilindros para que a reposição seja feita no tempo necessário”, diz. O problema começou a ser sentido no último mês quando, segundo Werner, o consumo de oxigênio em unidades de menor porte cresceu até 600%.

Na semana passada, o Paraná tinha a maior fila de espera por leitos do país, com 1.185 pessoas espetando por uma vaga na quarta (10), alta de 25 vezes em relação há um mês. Em boletim divulgado neste domingo (14), o estado contabilizava 756.604 casos confirmados e 13.478 mortes por Covid.

A taxa de contaminações é maior na região Oeste. Na área da nona Regional de Saúde do estado, onde estão Foz do Iguaçu e outros oito municípios, 10,5% da população já foi contaminada, índice bem superior à média do estado, de 6,5%.

A prefeitura de Cascavel, 500 quilômetros a oeste de Curitiba, diz que ainda não sofreu desabastecimento, mas que acompanha com preocupação a evolução do consumo e os riscos de impactos no abastecimento.

“É evidente que a demanda por oxigênio gasoso vem aumentado em todo o país e que as empresas do ramo não estão encontrando no mercado cilindros para atender esse aumento repentino”, disse o gerente de Divisão da secretaria de Saúde do município, Andrey Ferrucci, em nota enviada à Folha.

Segundo ele, a prefeitura está ampliando as redes de gases das três Unidades de Pronto Atendimento e do Hospital de Retaguarda do Município para que pacientes que se encontram nos corredores passem a usar oxigênio líquido, ao invés dos cilindros.

Werner diz que o governo do estado já informou o Ministério da Saúde sobre as dificuldades com cilindros e que vem negociando com a indústria local o empréstimo dos equipamentos para enfrentar a crise. “Estamos tentando fazer ação articulada com grandes produtoras de bebidas, por exemplo.”

Segundo ele, os municípios do interior começam também a ter dificuldades com o fornecimento de medicamentos usados durante a intubação, como anestésicos e bloqueadores neuromusculares. O governo do estado estaria ajudando a complementar a oferta, mas o estoque também é limitado, afirmou.

Na sexta (12) , o Ministério Público e a Defensoria Pública do Paraná foram à Justiça pedir a retomada de ações para contenção da pandemia, que foram relaxadas a partir de quarta (10), com o fim do lockdown e autorização para reabertura de escolas em modelo híbrido, por exemplo. O toque de recolher das 20h às 5h permanece e, aos finais de semana, os estabelecimentos continuam fechados.

Na avaliação dos autores do pedido, os 12 dias de duração do lockdown não produziram efeitos e o cenário é “assustador”. “Há semanas assistimos piora considerável no cenário epidemiológico da Covid-19 no Paraná” escreveram, em nota distribuída na sexta.

A flexibilização das medidas ocorreu num cenário pior do que o anterior. Na sexta-feira (5), dia do anúncio do governo, nenhum dos principais indicadores da pandemia no estado estava melhor do que no primeiro dia de lockdown, em 26 de fevereiro.

“O que vai fazer a gente salvar vidas, agora, é a consciência de cada um. Não é um decreto, uma folha de papel, uma assinatura minha que, sozinha, vai salvar vidas, mas sim as pessoas entenderem que estamos na maior guerra de saúde pública dos últimos cem anos”, defendeu o governador Ratinho Jr (PSD).

*Com informações da Folha

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